sexta-feira, 6 de agosto de 2021

SóLógico

Neste SóLógico

É proibido ser Giraffa

O arco-íris não tem cores

E o sabor bem pouco grassa 


O descolado é ser corrente 

É agradar toda essa gente

Ter mente só e ser somente

SóLógico, não divergente 


Um Urublue de orelhas fartas

Me perguntou mostrando os dentes 

Que mal se faz ser sorridente?

Ou bem que tem viver sem troça? 


É que não faz nenhum sentido

Pra gente que não enxerga graça

Na diferença da Giraffa

A identidade de um amigo.

Continuous

 A vida continua em preto e branco

E continuo sentado em meu banquinho

Assistindo a banda afinar seus instrumentos 


Nada toco

Em ninguém 


"Somos uma eterna falta"

Alguns, abismos 


Nada me toca

Tudo me atinge

O todo desfoca 


Não saio

Não vou

Só tenho 


E ter é pouco

Ao tato intento

Sem quanto é tanto

Contanto tenho

A falta é casa

Morada é tempo 


Se grande é alma

Pequeno tento

Valor é tampo

E aberto venho 


Aqui as horas passam devagar

E os dias bem depressa.

Custa muito dar seis e meia,

Mas quando se vê passaram-se quinze dias e mais um mês.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Ir-Resignado

Queria escrever algo belo, mas sou um sentir falta só.

Falta seu cheiro por perto, faltam suas pernas sem fim, o seu coração tuc tuc, as rezas que faz por mim.

Faltam seus lábios, enfim e os beijos que me arrebatam, falta a mulher bem pacata e a força de um querubim.

Falta seu travesseiro na cama, seus filmes de ficção, seu olhar firme e duro, seu choro de emoção.

Faltam seus seios fartos e sua plasticidade, falta o gemido suave e o frio no quarto que invade.

Falta a filha sentida, a filha que sentido deu. Falta alegria viva, à mesa ao lado seu.

É um apagar de luzes, uma vida no breu. Ausência que desatina, num desatino que é meu.

Falta minha mais dura amiga, aquela que mais me doeu. Falta o silêncio do tempo, gritando saudades suas, falta sentido na rua e quem sente falta sou eu.

Falta ungir alianças, em confissão conjugal. Faltam na casa crianças e roupa estendida ao varal.

Falta sentido e azimute, falta o motivo moral. Falta uma luz que afaste, meus pensamentos do mal.

Hoje falta quase tudo e o tanto que resta nem falta me faz. Falta você no futuro, dos verbos em seus plurais.

Falta acampar em sua vida, um latifúndio sem fim. Falta poder chorar mudo, falta deitar em seu colo, falta poder dizer sim.

Falta um pedaço do tempo, falta um pedaço de mim. Falta viver no convívio, a falta que sinto é assim.

E o ontem já tarde se mostra.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Na rede

Na rede canto
O balanço das cordas,
A firmeza dos punhos,
O sibilar dos ganchos.

Na rede sambo,
Numa avenida marítima,
Nas ondas e luas,
Marés de curvas femininas.

Na rede cachimbo
Ao som de big bands,
Viajando de escaler
No bem me quer do tempo.

Na rede canto.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Naked

Eyes.
Our eyes.
Silence.

Abra-se,
Abismo em si mesmo.

Abrace. Sentidos.

A luz. Alucinações
Dum tempo,
Momento,
Movimento poente.

Silente,
Vão asas, voam asas,
Voa gente.

São olhos
Pequenos.
E mãos.
Olhos nunca ausentes.

Sementes
Sementes
Sementes.

Abismo de mim.
Voo em mim.
Silenciosamente.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Um poema

Então, um beijo.
Um longo vestido preto
E olhos de mar.
Branca, não como mármore
Mas como uma rosa ou um copo de leite.
Bela, com sardas nos ombros e busto,
Tal qual águas de um córrego manso.
Lábios úmidos, poucas vezes secos

E um cheiro de flor.
Sua veste ora branca ora vermelha denunciava certa inocência íntima ou a sua falta.
Saltos altos e finos, que a elevavam além de mim mesmo.
E um olhar... indescritível olhar. Entre terno e doce, entre desafiador e indomado, entre gente e gente.
E assim se sucediam,
Dias de lua, sol e pouco escuro. Não escuridão, escuro.
O escuro que velas alumiam.
Sua fala dissociava-se do ente humano que apresentava.
Suas passadas fortes denunciavam uma menina escondida.
E o vento? O vento em seus cabelos claros flanava meus pensamentos.
Sim, ele os flanava. Os fazia flanar.
Era como olhar o sol sem piscar,
Era como ver sorrindo.
E o tempo, ao seu lado, o voo de uma borboleta ou uma guerra.
Seu nome era alvo, límpido. E sua pronúncia doce.
Nossas mãos se entrelaçavam e havia uma rainha e um rei.
Um ventre naturalmente prolífico havia.
E o céu se abria ou a tempestade se apresentava.
E havia o amor.
E havia o tempo.
E havia o beijo
E nele tudo renascia.
Um aconchego, e um recostar arfado sobre o peito.
A contemplação, miríade de eflúvios de paz. Cumes. Cimos.
O canto do horizonte.
A beleza do tempo,
Do olhar perdido.
E dormia um rei e uma rainha.
E havia um beijo
E tudo nele renascia.

Jardim

Formas. Nanquim.
Risco, rabisco
Cores
Dores
Corpo
Roto, torto. Morto
Corpo
Seiva, suco, tato.
Um mar

Baronesa de Arary

O som dos carros,
Dos ternos
Dos moradores de rua,
De saltos altos

A sinfonia dos carros.
A sinfonia dos carros.
Emoldurando São Paulo
Num cinza do firmamento

Seus alicerces concretos
E seus mosaicos de gente
A concretude do espaço
A imensidão eloquente

Tem gente rindo
E chorando,
E gente indo
E voltando

Na concretude do espaço
No cinza do firmamento
Na poesia dos passos
No frenesi do momento

E gente indo
E voltando,
E gente indo
E voltando,
E gente indo
E voltando.

Natividade

Tenho 34 anos
Tenho 33 anos
Tenho 30 anos
Tenho 27 anos
Tenho 25 anos
Tenho 21 anos
Tenho 18 anos
Tenho 15 anos
Tenho 12 anos
Tenho 7 anos
Tenho 6 anos
Tenho 1 ano.

Tenho todos esses anos em mim. Meus.

Afro-Brasília

Agô.
Cafundó. Cafundó.
Asas encruzilhadas, eixos
Ebó.
Brasília-Ebó, prosperidade.

Candango.
Cachaça, chibata, banzo.
Cerrado habitat, calango.
Cascalho rolado, seixos.
Diversa cidade.

Calangos.
Céu setembrino,
Azul. Azul. Azul esplendor
Meninos.
Luar d'ambar, Chapada
De manto estrelas-flor.

Calangos candangos.
Cerrado cafundó.
Agô.
Brasília nagô.

Bigode

Carrego seu nome comigo,
Meu velho, meu pai, meu amigo.

Reflito seu olhar no espelho
E as falhas de uma calvície.
Encolho meus pés
Para que pareçam os seus.

Imito seu sorriso fácil, franco
E o seu olhar austero.
Pinto lentamente
Meus cabelos de branco.

Prevejo breves janeiros
O tempo inteiro.
Me agarro nesse seu abraço,
Em mente.

Contemplo nossos jantares
Silenciosamente.
Me faço de ausente,
Presente.

Minha cama ainda está feita
Em sua casa.
Há chinelos meus,
Ainda que ande distante.

- Não carregue isso,
Deixe que eu levo.
Tomou seus remédios?
Foi ao médico?

Enxergo um menino
Tão bonito.
E a sombra de uma montanha
Tão alta.

Como somos chatos,
Às vezes.
Aceito,
Sou mais ranzinza.

Mentimos mal,
Verdade.
Mas somos marotos,
No bom sentido, lascivos.

Sou seu menino.
É o meu menino.
Sou seu protegido.
Não mexam contigo.

Somos
Dois em um.
Somos
Um em dois.

Somos,
Só somos.
Um terno eterno
Nós.

Carrego seu sangue comigo,
Meu velho, meu pai, meu amigo.

Vórtice

Passa o tempo passam passatempos,
Com ventos de chegadas-despedidas,
Unguentos e emplastros de alento,
Do tempo de memórias mal sentidas.

Passa o tempo, inexorável tempo
Que se só faz-se cativo
E em par faz-se sentido,
Qual ser ventania ou vento.

Passatempos passam passa o tempo,
Implacável, eterno e lento,
Que no vendaval de culpa
O passado faz detento.

Passa o tempo, inestimável tempo
Do descanso eterno ao ventre
Um espasmo reticente,
No suspiro helicoidal.

Passa o tempo, imponderável tempo
Que da planta faz semente
E das gentes faz a terra
E da terra faz sustento.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Freya


Eis que tu, filha de Njord,
Semeaste coragem em terra árida,
Regaste com lágrimas semente de medo
E fizeste germinar desejos de porvir.

Do deserto oásis colheste inspiração,

Cultivaste na areia frágil flor
E de um sol guardião fizeste remanso
E da abóbada celeste alento.

Eis que tu, rainha em teu leito,

Extraíste do solo um rebento,
Do ventre da terra um amor.

Despertaste um deus esquecido,

Fizeste-lhe do colo abrigo,
Nomeaste de ausência a dor.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Novos limites


Uma grande amiga me disse certa feita que meus poemas são efêmeros, que retratam pessoas e momentos que rapidamente se esvaem em minha vida.
Lembrei-me de Cora Coralina quando sabiamente disse da pobreza dos moços que se davam a escrever estórias sem ter vivenciado histórias próprias.
Então, aos 33 anos, creio que meu caminho já tenha algum chão. Pouca terra, terra fofa, mas já chão. Desde essa primavera passei a escrever sobre coisas da vida e da existência, conforme minha ótica.
Os últimos três poemas daí vieram. Espero atender a esses meus anseios. Então, até.

domingo, 20 de maio de 2012

Meu filho

Sou meu próprio filho e
Os filhos do meu filho também sou.
Sou minha mãe, pai e avôs,
E o todo de tudo que sou.

Sou o luto depois da guerra
E o espólio do vencedor.
Sou de berço, raízes e terra,
Duma era que o tempo apagou.

Do caminho que é feita a estrada,
Andejo de vales e montanhas,
Sou anátema dos elementais.

Potestade de minha loucura
Em sua busca por ares de paz,
Sou o filho do filho que sou, nada mais.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Mãe mulher

O ventre oco ecoa badaladas
Como relógio, que o tempo não controla,
E da ternura ao seio jaz sugada,
Faz-se reclusa a alma que se imola.

Mãe mulher, que a noite acorrenta,
Mãe mulher, que o dia lhe devora,
Frui a dor da tarde em solitude
E a quietude lúgubre de aurora.

Macho, no covil de cobardia, alhures
Fêmea fortaleza se apresenta, alento
Lambe, inda que sangue, sua cria

Desfiando olor de sofrimento,
Encerra trás dos olhos mulher mãe,
Orquestra o destino em sinfonia.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Milharal

À sombra de um milharal
Cultivei dum por vir esperanças,
Tempo idealizado por mim,
Entre medos e angústias.

Fito sob as espigas
Milhos derivativos,
Milhões de desapercebidos
Sentidos de quem não sente.

A sombra do milharal
Fitou-me com desalento
E ecoou o vazio doirado.

Debulho grãos amargos.
Distante vai realidade.
Milharais não sombreiam.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Meu breque

Só quem viveu um grande amor conhece a beleza e a sensualidade de um pijama velho e tira samba de ouvido das gotas de chuva sobre teto de zinco.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sheol

Onde o mar arrebenta, morena
Descansando meus pés sobre os seus,
Há uma alma que ostenta, serena
O refúgio escondido do adeus.

Quando a luz escurece precoce
E entre as pernas cultiva-se adrede,
A donzela de vestes mais sujas
É de todas mais bela semente.

Porque grito é canto bendito
E suor castiçal da igualdade,
Palavrões pastoreiam gemidos
Em um hino de liberdade.

Contemplemos a morte, morena
Contemplemos o elã, saciedade
Guardo aqui sua alma roubada,
Guarde em si meu olhar de maldade.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Fragmentos

Na quina do horizonte plantei esperanças hostis,
Pedaços de risos e memórias incompletas.
Lancei minha velhice inda não manifestada
E dela extraí algo que seria um homem, que quando criança não seria.

Na quina do horizonte perdi as aparências mais puras
Caídas dos furos de um bolso eremita.
Tomei por perfeito um erro mal feito
E edifiquei na bateia meu devenir intangível.

Na quina do horizonte há seios chupados. Cheiros suados, despidos de pudor.
Há corpos surrados. Corpos surrados.

Na quina do horizonte, no vértice do tempo, compreendi o sentido do nada e respirei a liberdade da descrença.

Cabelos caídos, lençóis não dormidos e dores de parturiente, na quina do horizonte.
Encontrei o fim e o começo, onde navios virão a pique e estradas terão fim.

Na quina do horizonte não é primaz o tempo e toda morte ocorre em um segundo, alimentando d’alma água e pão. 

Consolam escombros
Na quina do horizonte, na quina do horizonte, na quina do horizonte.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Tangente ou vértice

Passos. Passos a leste do Reno. Passos de mãe, passos mulher, passos ferinos.
Leves em sua firmeza e suas sardas cítricas. Passos vestidos de flores e de branco.
Passadas brancas, invariavelmente brancas.

Passeio tropical, passos altivos.
Alquebrados, ressabiados, passos menino.
Passos ombro, colo amigo e paladar. Passos perigo, passos de dar.

Cheiros e cicatrizes. Entalhes comuns. Vetores.

Bocas úmidas. De gosto ácido e doce a fala ausente.

Não nos vemos, reconhecemos.

Histórias, quantas histórias. Prantos e risos, flores e libidos. Fotografias.

Memórias, tantas memórias. De Berlim e de São Jorge, de Paris e de Sevilla, de Arraial e da Paulista, de Brasília... E desejos de Antártida.

Permeia fantasias o bom papo num Café. Ele expresso duplo e água, ela cappuccino.

Povoa o imaginário um escambo de segredos, quiçá livros distintos sobre seus travesseiros.

E há uma menina Feliz. E um cãozinho peludo.

Há uma fera escondida detrás de um sorriso.

Há um blefe de pôquer a cada instante

E a miragem de um porto em cada pensamento.

Não nos vemos, reconhecemos.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

pothuin

Há um barco.
Um barco chamado existência.
Há um barco.
Um barco da gaia ciência.
Há um mito.
Um mito detrás do abismo.
Há um mito.
Um mito da saga e dos riscos.
Há uma ponte.
Uma ponte voltada ao horizonte.
Há uma ponte.
Uma ponte força-transcendente.
Há um grito.
Um grito descendo ao abismo.
Há um grito.
Um grito transpassa-infinito.
Há um hino.
Um hino do mito da ponte.
Há um hino.
Um hino do barco e do grito.

Há um barco
No imo do hino infinito.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Bipolar


No princípio há alegria.
 Um rosto de paz.
  Há sol sobre a cabeça.
   Há riso que contagia.
    De súbito algo se inicia.
     Há ruídos do lado de dentro.
      Há um medo que se aproxima.
       Um medo que ganha espaço.
        A face se transfigura.
         Primam tremores físicos.
          E os atos tornam-se irascíveis.
           E um tornado precipita.
            Há uma fúria incontida.
             Há pedras lançadas.
              Há alguém que remói indômitas fantasias.
               Enfim, há um estrondo.
              Um orgasmo negro.
            Um golpe certeiro sobre mãos estendidas.
          Golpe fatal sobre mãos amigas.
        E há desespero.
      E há dor e há culpa.
    Há remorso e choro.
  E há um doloroso recomeço.
E germina lentamente nova alegria...

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Música - Let’s go

A curiosidade move o mundo
Quero fazer supermercado com você
De madrugada bem juntinhos ir comprar sabão em pó
É tão difícil essa vida de ser só.

A noite fica tão escura quando chove
Cheiro molhado perde o gosto de anis
Papel de carta e penteadeira de menina
Tudo que é belo está debaixo do nariz.

O cricrilar dos grilos soa tão distante
E as cigarras já estouraram de cantar
Umas ciganas enfeitadas leram alegres minhas mãos
Quem dera eu fosse uma bolha de sabão.

Lará lará, lará lará, lará lará lará, lará lará, lará lará lará lará

Lará lará, lará lará, lará lará lará, lará lará, lará lará lará lará

Ontem espantei uma abelha que voava
E me lembrei das cartas que não escrevi
Dos seus cabelos negros envoltos na toalha
Acho que aquela abelha tinha uma casa.

A minha casa fica na minha cabeça
E em seu sofá você folheia o que lê
Imaginando Beatles cantando pela sala
Então a tiro pra dançar frente a TV.

Voa gérbera minha, voa o meu cravo seu
Deixa seu cheiro de amor pelo ar
Deixe a camisa da Minnie flanar
Que eu deixe o futuro de lado, presente e passado, por um beijo seu.

Lará lará, lará lará, lará lará lará, lará lará, lará lará lará lará

Lará lará, lará lará, lará lará lará, lará lará, lará lará lará lará

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Redução

Sou barro de oleiro, vermelho
Cozido no forno da realidade
Temperado no tempo do vento
Barro pisado, barro que nutre.

Senhor oleiro me afaga a essência
Revira entranhas, expõe referencias
Transforma-me de produto bruto,
Barro que sou, em subproduto.

Sou o que sou seu oleiro!
Barro vermelho, barro vermelho.
Não me transforme em seu espelho.

A porcelana que almeja é frágil,
Dessa nova realidade tenho medo
Seguro estou, enquanto sou, barro vermelho.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Bailarina de escaler (Armada)

Carrego em mim, no tear de meus cabelos,
Manta de carícias e temperos, negra flor
Há em mim a distância de um último suspiro,
Lembranças e sentidos, cheiro e sabor.          

Um escaler navega, horizonte que se estende
Olhos janela, olhos de chuva, olhos que sentem
Mar-esperança, tornado voraz, pequeno navio
É peso do corpo que se recorda, gosto tardio.

Quão bela caixinha de música! Bailarina se ergue
Ventos de partida? Brisa. Paz, alívio e refrigério
No contrassenso sentimento, românticos mistérios.

Caminho de bailarina: punhos, pernas e brio
Barquinho escondido no peito, adeus menino
Saudade de amor é fogo, muito queima sua verve.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Acordes perdidos

Distante caminha uma sombra intocável
E olhá-la é quase como sentir seu gosto,
Dos beijos, passarão além de desejos?
Ou o cheiro, que a lembrança imagina.

Eis que uma menina parte, ao léu
E sua malícia sustém o firmamento
Longilínea, cabelos negros e pele alva
Mulher encantadora e seus tormentos.

São sete noites que há ordem na desordem,
E sete dias que o sol nasce tardio
São doze noites de confusas decisões
E doze versos que enlevam ao desatino.

Agora são vistos postais de imagens santas
Que se alevantam no arvorar da simpatia
Retratam risos e acordes repetidos
E suas verdades que jamais serão ouvidas.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Amigos ou abrigos, já não os diferencio.
Quando noite, deles me visto.
Se me tardam, inexisto.
Nasce o dia, neles me dispo.
Se me invocam, ressuscito.

Regressai

Renova-se o novo, jactante.
Inebriante,  parcial e tolo.
Como tudo que se deita, ouro
Como vida que se entrega, aurora.

Certezas, telas vazias
Repletas de escrita ausente,
Entregas mais que displicentes,
Dementes em cautelas frias.

E o héspero exortado clama,
E lençóis tornam-se algemas,
E Aurora ora custa florescer.

E é cama refeita a penas,
Desenlaço de quem desama,
Crisálida a refazer.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Intellexi tandem

Sou mais Neruda que Nietzsche, prefiro amor a descrença.
Sou Pessoa ortônimo existencialista
Sou Fernando heterônimo que vê.
Sou Lispector impulsiva
Sou Clarice a transcender.
Sou muitos escritores
Sou cantores e atores.
Sou naufrágio na leitura
Sou escrita inconsequente.
Sou descoberta do rádio
Sou cinema dormente.
Sou Coralina infância e receitas
Sou Cora desprendimento.
Sou Amado menino de areia
Sou Jorge compadre de Ogum.
Sou Moraes poeta imanente
Sou Vinícius incandescente.
Sou Frota alter ego
Sou Adriana materna Maria.
Sou somente o que sou
Sou amor por amor.
Sou chegadas
Sou partidas.
Sou amigos e amigas
Sou afagos e feridas.
Sou todos que magoei
Sou aqueles que perdoei.
Sou mãe, pai e avô
Sou fraternal amor.
Sou minha mãe quando chora
Sou meu pai quando ri.
Sou coração de minha mãe
Sou olhar de irmã mais velha.
Sou sorriso de sobrinhos
Sou expectativa de filhos.
Sou tios primos parentes
Sou família simplesmente.
Sou amor pelas mulheres
Sou mal e bem-me-queres.
Sou Princesas, Rainha e Imperatriz
Sou delas orgulhoso aprendiz.
Sou insensatez da busca
Sou grilhões e descobertas.
Sou reencarnacionismo
Sou esperança em Cristo.

Sou tudo que preciso
Sou feliz, só isso.

quarta-feira, 16 de março de 2011

O sentido das coisas

Não pare. Por favor, não pare. A caminhada somente se inicia. (1)

Não pule. Por favor, não pule. Esse abismo não tem fim. (1)

Seu sofrimento é só seu. Seu sofrimento é só seu. Seu sofrim... (2)

Não morra. Por favor, não morra ainda. Terá de recomeçar. (1)

Seu conflito dele partilho. (1)

Nada que existe existe. Tudo que se sabe é mera ilusão. (2)

Então, para que as rosas? Por que cultivar as flores? E os livros, de que servem? (1) (2) (3)

Sou bicho. Um animal bicho homem. (3)

Sou nada e o nada que sou me consome. (3)

terça-feira, 15 de março de 2011

O grupo de 05 poemas que segue, de Afinidade a Indecisão, é fruto de uma brincadeira realizada no facebook. No site escrevi a frase: “Alguém me dá um tema para escrever um poema?”. Vários foram os temas apresentados e, respondidos de inopino, geraram poemas crus. Crus e imperfeitos, poemas nus. Selecionados, alguns foram um pouco remodelados para a postagem no blog, retirando-se erros mais grosseiros e expressões desconexas.
Todavia, tratando-se de temas propostos por diferentes pessoas, com diferentes crenças e conceitos, não posso dizer exatamente que reflitam, em sua totalidade, meu modo de ver o mundo. São materializações de anseios postos, alguns em consonância outros servidos a la carte. Seguem com as devidas ressalvas. Salvam-se alguns... creio eu.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Afinidade

Aquele olhar que me compreende
Ao largo dos olhos e da verdade
Olhar que busca o encontro ausente
No cio mudo da afinidade.

Aquele olhar que meus beijos rouba
E as roupas despem a seu piscar
É o mesmo atroz que traz fogo a boca,
Faz terra tremer o seu sibilar.

São sardas e pintas sobre alguma mesa,
São camas cobertas ou o chão que há.
Nada mais que histórias a se recordar.

Vencida à luz do dia a virilidade,
E o surto momentâneo de ver-te passar:
Minuendo instante de felicidade.

Melancolia

Eis que vejo este anel de brilhante
Envolto em ouro branco a beldade,
Fez da dúvida certeza instante
Graal de amor e fidelidade.

Selados votos sob manto público
E a pura toga da bel castidade,
Brilho transmuto, noite porvir,
Que a aurora encerra com fealdade.

Do riso ao pranto, a covardia
Das rosas ao fel, uma ironia
A dor crescente, o dia a dia.

E é moribundo o amor selado,
Vai-se sem respeito, jaz na picardia,
Restam-lhe a mágoa e a melancolia.

Tudo

No princípio era o Tudo. E tudo se resumia ao Verbo.
Denso, Quântico, Quente, Uno e Incompreensível.
Compadecido e Cheio de amor, o Verbo Se comoveu,
Numa flexão espaço e tempo, a nós, então, acolheu.

Seu fiat lux, Sua mão amiga, separou céu e terra.
Gotículas Dele animaram horizontes, fomos procariontes.
E o Verbo chamou à Luz Dia e à Noite Trevas,
Cessando o calor. Nossa história, então, estreava.

Eis o livro da vida perfeito: ácido desoxirribonucleico.
Guarda escrito aminoácidos mistérios proteicos,
Verdades do tempo e seus mensageiros, ácidos ribonucleicos.

Pelo Amor compadecido, vertebrados transformamo-nos,
Dos mares à terra firme, até quando rastejamos,
Depois de aprender a mamar, evoluímos a humanos.

Você

Nascia um menino medroso, o ano era 79,
Ainda sem vestes talares, suas fraldas e berço pobres.
Crescido ora no sul, outrora no centro-oeste,
Dividiu-se entre a cuia e o mundo cão faroeste.

Tantos precoces amigos, mortos imoralmente
Perdidos e sem amor, tomados inconsequentes.
Tantas mulheres amadas, vaidade que o tempo escoa,
Quantas decisões tomadas, vida demente que voa.

Embriagado de furia, abstêmio da insensatez,
Fez da espada guarida: brandí-la não mais convém.
Em terra desguarnecida, vigilância coube-lhe bem.

E segue andarilho em pojos, saltando nos vai e vens,
Por companhia o alforge, lembranças e uns vinténs,
Sabendo que na caminhada, faltar-lhe-á sempre alguém.

Indecisão

Seres aleatórios em universos randômicos
Paralelando destinos, alforriando encontros,
Desencontrando no traço, morte, amores e ouro,
Surtando no descompasso, alegre de abatedouros.

Amarelinha da vida, um passo em falso alçapão,
Decida-se ou lhe devoro, não há outra solução,
Barco com furo no casco? Não bastará o timão,
É saco furado, vazio, o cheio de indecisão.

Decidir pode ser litúrgico, ou vir de um encontrão,
Muda azimute da vida, qualquer simples conclusão.
Cerzir histórias do tempo? É linha pura ou linhão!

Nada escapa da morte, tampouco da indecisão,
Do berço a Deus ou Diabo, um ou outro seguirão,
Nada é tão fácil ou difícil quanto tomar decisão.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Paulista

Bêbados. Bêbados! Miseráveis bêbados.
Pobres bêbados miseráveis.
Miseráveis bêbados pobres.
Pobres. Miseráveis. Bêbados.

Sob marquises fétidas fedem
Escórias da história, escondem-se
Passado silente, ausente
Arrastadas culpas, correntes.

Bêbados, invejo-os com desprezo,
Alienam-se em imensa coragem
Na covardia dos medos.

Bêbado. Eternamente bêbado.
Tão ternas (cruas) verdades nos regem,
Bêbados! Tão livres, tão presos.

Nonsense

Sua casa distava da minha um cigarro,
Um cigarro de distância nos separava.
Ainda que regados, morreram seus girassóis.
Restaram minhas arrudas, inquebrantáveis.

M'a dit une lesbienne:
Tu baises comme une femme
Me disse uma prostituta chorando:
- Você não poderia ter sido tão canalha assim.

Cantarolava na noite fria ao cheiro de jasmim.
Cantarolava loucamente e via,
Torrentes dementes fluir.

Não mais o mesmo de antes,
As fotos do pedalinho
Jamais andar de bicicleta
Que morram as suas bonecas
Se percam em botequins.

Sua casa seja um guarda-chuva
De uva ou carmesim
Não quero manchar seu vestido
Meu ego seja um bote
E a morte nosso jardim.

Branca

Branca flor, vestida de bordado e rendas
Despida de medos, segura. Segure minha mão.
Branca flor, saudade não se compara não
Cheiro não se apaga, olhar e gosto, oferendas.

Colo de flor, aconchega meus medos
Pranto aplacado em silêncio, relva de amor.
Colo de flor, conhece minhas fraquezas
Arranca do peito espinho, soluço escondido e dor.

Mãos em pétalas, tocaram meu corpo e mente
Mãos prolíficas, plantaram em mim sementes
Mãos de seiva, teu suco e sangue quentes.

Branca flor, florido esteve este jardim e altar
E jaz dormente, anseia o seu brotar,
Ou dele esquece para não mais lembrar.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Outono

Outono, outono enfim.
Despida, rota, desnuda de mim. Outono.
Balaios de mim: verdades, dogmas, certezas. Balaios de mim: tristezas.
Folhas secas, tortos galhos, monturos.
Fragmentos, matéria prima, húmus.
Húmus meu, húmus eu. Adubo.
Outono. Outono enfim. Outono.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Aquela presente

Confusa, trazia o passado atado a si.
Vestida de azul. Azul ilusão.
Simplesmente presente, prudente,
Cautela de quem não quer se ferir.

Azul arrastão, azul fantasia, se ria
Daquele que nada lhe parecia ser,
Presa-Liberta, paradoxal chega
De mansinho, sem nem perceber.

E as mãos se entrelaçam novamente
E há risos e dores, torrentes
E histórias de pratos saborosos.

E o sono invade lentamente,
São filmes deixados de lado,
Fragmentos diários, repentes.

Zurzindo crença II

Todo dia minto. Para sobreviver, minto.

Minto a continuidade da existência sem seus cabelos molhados, escuros e encaracolados.
Minto a razão das coisas sem sua camiseta velha da Minnie em par com minhas golas canoas feitas à tesoura de casa.

Anos se passaram, finjo ver seu sorriso infantil. Adorável:

– Paaaaara!!!
– De que?
– De ficar me olhando assim.
– Assim como?
– Assim desse jeito, com essa cara de bobo, fixamente.
– Não consigo.

Simplesmente não consigo ainda. Até hoje.

Quantas vezes, daquele seu sonzinho prata (que você comprou com seu primeiro salário), Beatles, Maria Bethânia, Nana Caymmi e outros testemunharam nosso cortejo? Dançávamos e ríamos na minúscula sala, fria, de paredes descascadas e móveis baratos, alguns doados, que ornavam nosso salão festivo na ilusão do momento, nossa dança de amor.

Quanto chamei por você, quanto medo tive?
Quantas chamei de você?

Quanto orei, cantei, supliquei por você?

Colecionando juras, sigo. Jurando em vão.

Tudo em vão.
Pecador contumaz não tem perdão.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Zurzindo crença

Memórias. Estão se apagando. emórias. Derretendo. emória. Desvinculando. mória. Descalça. móri. Desnuda. mór. Liberta. ór. Asas. ó. Vôo nu.
Ainda há dor. Alegria. Raiva. Ainda há cheiro, tato e paladar. Ainda há um mar em mim. Enfim descubro, este mar sou Eu. Nada mais há de seu aqui. Ponha-te para fora, bata a terra dos pés e deixe de existir, eterna e ternamente. Em paz. Enfim.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

As coisas

Fenece. Tudo que nasce, fenece.
Fenece. Sinal bom, olhos luzentes.
Fenece. Brilho opaco, amarga sina.
Fenece. Se vivo fora, fenece.

Fenece. Inté a fênix minha, fenece
Fenece. Guardada na caixa-peito,
Fenece. “Artura” do vôo e do tombo,
Fenece. Féretro-peito. Espoca e pumba.

Fenece. Tudo que nasce, fenece.
Fenece. Aurora termina em noite.
Fenece. Garrafa que jaz vazia. Gemido mudo.

Fenece. Tudo, nascido, fenece.
Fenece. Cremos: Valha-nos Divino!
Fenece. Nascido sou: feneço em mim (enfim).

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Pessoalmente

Minha arte é ignota,
Vazia, Rota.
E sua falta de conteúdo
É o nada.
O vazio do autor inerte.
Arte inerte, vale nada.
Vida morta, inacabada.
Que arte é esta, então, inanimada?
É arte não. É nada.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Modelo (In)Comum

Vestida de sorriso flana,
Perdida, em meio a certezas
Plena como vinho que transborda,
Forte qual moral de realeza.

Ora luz, ora graça, a envolvem
Ora fúria letal, profundezas
Sendo fêmea voraz num instante
Alva flor, pura delicadeza.

Felina pelagem negra, sonha
Essencialmente humana, ama
E no íntimo esconde tristezas belas.

Suor em gotas: sua aquarela!
Arfando desejos, unhas e dentes,
Verdades pungentes talhadas nela.

domingo, 1 de agosto de 2010

Amizade

O bloco de 4 poemas que segue, postados 01/08/2010, foram talhados em favor de uma grande amiga, entregues à essa durante 4 momentos difíceis de sua vida.
O primeiro, "Parcial", trata dos desdobramentos internos/externos do término de uma relação.
O segundo, "Drimonclape", aborda a descoberta fortuita de uma gravidez.
O terceiro, “Petrus Eni”, da alegria, após o susto inicial, inerente à gestação.
O quarto e último, "Ave Maria", de um momento inconsolável, a perda da querida Mãe.
Formam, em verdade, uma declaração de amor fraterno a Adriana, dileta companheira de conflitos existenciais, à qual renovo meu carinho e respeito.

Parcial

Estarei aqui de braços abertos
Ouvidos atentos, olhar inquieto
Sem balança ou pêndulo,
Sem juízo ou sentença.

Serei a sombra de sua vontade
Oposta na consolação do verbo
Ditada pelo acalanto e o cafuné
Mormaço ou brisa, como quiser.

Importam-me pouco suas travessuras,
Preocupam-me seus joelhos ralados,
Pois as vidraças quebradas consertaremos.

Esquecerei o politicamente correto,
Não sou Santo para manter tais mesuras,
Basta-me contemplar sol em seu poente.

Drimonclape

Eu sou Clara, sou Pedro. Eu sou Segredo.
Sou o receio de minha mãe, ora medo.
Sou esperanças de vovó Maria, só alegria.
Essência láurea, lava e alma da Montanha fria.

Num átimo me fiz presente, tão de repente.
Furor que não se conteve, algo ardente...
Pungente e conseqüente, sem picardia.
Sem culpa, sem desrespeito, sem revelia.

Sou Vida que regenera aos que me concebem,
Amor que não se mensura, perdão a quem não o pede,
Sou muito, do bom ou ruim, que vos guarnece.

E venho bem de mansinho no ventre de minha amada,
Aguardo a seus carinhos, seus versos e presepadas,
Pois transmutarei em Tudo, aquilo que era o Nada.

“Petrus Eni”

Já não há mais segredo, sou Pedro
Dissiparam-se as dúvidas e o medo
Vó Maria me embala nominalmente
Sou mais que células, sou gente.

Eu sonho com bola e travessuras,
Discotecagem a noite para ninar,
Fernando Pessoa a questionar,
Aprendizado de amor e amarguras.

O tempo dos curtas encolherá
Suaves leituras tornar-se-ão raras
E recompensarei engatinhando.

Aos poucos balbuciarei gemidos
Levantarei a espinha, abrirei os ouvidos
Serei vocês em mim, perpetuando.

Ave Maria

Amor mudo, maior, agudo
Árvore frondosa, lume, tudo
Frutos verdes, ora maduros
Seiva de alma, ar puro.

Prolífica, educadora, bélica
Cria protegida, viva. Vida.
Sorrisos. Alva flor, colo abrigo.
Mãos de paz, passarinhos.

Salve Maria, mãe amada.
Melhor amiga, abençoada.
Bendita história, imaculada.

Santa mãezinha, dor de saudade
Perseverante, una vontade:
Seguir prudente à sua imagem.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Trajeto

Nas datas de 29 e 30 de julho de 2010 postei uma série de poemas meus antigos. Não posso negar que tenha me causado certo constrangimento fazê-lo. Esses poemas foram escritos em vários e distintos momentos de minha infância, adolescência e limiar da juventude. Muitos outros foram excluídos, por falta de coragem mesmo. Uma infinidade jaz perdida no tempo, infelizmente.
A técnica utilizada é ainda mais rudimentar que a atual. Há muitos erros de toda espécie. Todavia, servem de registro histórico de minha existência, ao menos. Tratam do deslumbramento ante a descoberta do amor e da dor. Do sexo bom, do sexo ruim e suas implicações. Da depressão companheira. Do “excesso” que sou tantas vezes.
Creio que deslumbramento seja a palavra mais apropriada, pois a vida sempre me exerceu um fascínio e um desapontamento dual e perene.
Obrigado àqueles que por aqui passarem e obrigado ao espaço que oportuniza essa exposição e impulsiona meu desenvolvimento pessoal.

Soneto à Marcela

Quero dizer precocemente que te amo
E se preciso for arrepender-me de tê-lo dito,
Chorar em prantos minha desventura
Estando certo de ao menos ter vencido.

E se ao matar tal medo me depare
Com um desvairado “sim”, enlouquecido,
Fazer morada eterna em teu ventre
A fim de não ficar desprotegido.

Doar-te em meus braços meus hormônios
E a fúria destes anjos e demônios,
Vivendo a infinitude do momento.

Pra ser somente teu e ser só minha,
Pura, ingênua e terna menininha,
A vida inteira ou o tempo que perdure.

...................................2001.

Babélico (Freudiando)

Oboé, Oboé, som dos fortes, oboé
Alma dos dragões celestiais, arrebol
Magma eruptiva do vulcão, coração
Razão que a lava oferta ao viver.

Centelha que anima os movimentos, desejo
Inunda o peito e fere arrefecendo, sofrendo
Num contra-senso ávido e sangrento
Que entona o destom dos sentimentos.

Barragem que estanca os devaneios
Disseminando em fluxo o pensamento
Qual diretriz oposta aos intentos.

Barganha entre a vida e a morte
Denominada amor, luxúria ou sorte
Dum livre privilégio dos detentos.

.......................................2001.

Gozo Diluído (Amantes)

E vendo teu sorriso me desarmo
Esvai-se em mim a ira e restam dons
Esqueço os problemas e pecados
E deixo-me levar por sonhos bons.

Qual parvoíce ou surto, irrequieto
Me dispo das vergonhas que detêm
Encaro em teu abismo um lago aberto
E nado em ti como nunca em outro alguém.

Bebendo teu olhar fico perdido
Embriagado vejo um mundo novo
Razão de toda busca, incessante.

Completa o meu ser adormecido
E dá puro sentido ao termo amante.
Traz gozo diluído a cada instante.

.......................................2001

Vida

Se você me disser por que choro
Dou-lhe meu coração,
Um músculo que agoniza
A cada passo que dá.
Porém, ao descobrir tal mistério
Torna-se responsável por aliviá-lo.

Se entender meus devaneios
Vindos de um perturbado cérebro,
Músculo que se atrofia
Consumindo meu corpo inteiro
Deverá tomar-lhe ao colo
E lhe fazer um cafuné.

Se perceber meu fogo
Pelas marcas do meu sexo
Num músculo que se esconde
Guardado de todo mal
Toma-me por inteiro
Apaziguando a euforia.

Se dominar a todos
Por sua simples presença
Polida, voraz e pura
Com a pele da face nua
E o cheiro da brisa do mar,
_________Faça-me seu.

.............................24-05-2001.

TREPIDE

A morte nem sempre oferece medo
A menos que dos nossos entes seja
A vida pode até não ter sentido
Mas torço pelo direito de tê-la.

O mundo está lançado ao léu
Subjugado aos desmandes dos fortes
Os fracos, no desespero vêem o céu
Revoltam-se e entregam o ser à sorte.

Na luta pelo livre pensamento
Travada entre história e sentimentos
Perdemos a essência das pessoas.

Esquecemos no excesso das mortalhas
Os corpos atirados nas fornalhas
Queimando a fé e a vida em vãos momentos.

...........................11-08-2001.

Dia Bom

Barco, Parto
Nascer, Parir,
Navegar . . .
. . . , Sol,
Praia, Coro,
Beijo, Sexo,
Carinho, Dormir,
Amor, Sexo,
Banho, Café da
Manhã, Praia,
Camarão, Coco,
Cerveja, Beijo
Casa, Banho,
Sexo, Sono,
Televisão, Lanche,
Arrumação, Night,
Bar, Música,
Cerveja, Dança,
Risos, Vida,
Beijos, Passeio,
Brincadeiras, Ancas,
Escada, Malícia,
Casa, Sexo,
Banho, Carinho,
________Sonhos . . .

................................2000

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sem Sentido (Ressentido)

Como um grande pote vazio me sinto
De qualquer sabedoria desprovido
Que à noite ao decepar sua gravata
Depara-se com um insignificante eu.

Tão pobre e inquieto ser pungente
Careço da piedade das pessoas
Aflito me recolho ao sono eterno
Refúgio dos insanos sofredores.

Desta vida solitária e depressiva
Que se alegra à pena alheia dispensada
Ruem risos e sorrisos disfarçantes.

Na berlinda, da loucura à ebriedade,
Dum cotidiano flórido imposto
‘Me demovo’ dessa glória concedida.

........................................2000.

Quadro Paredes

Nas teias de seus braços,
Emaranhados de beijos,
Abraços e pernas trocados
Num canto meio sem jeito.

Vivenciar a loucura
Do gosto de sua presença,
Vestida de deusa nua
Matando minha inocência.

E com olhar fustigante
Me afogando em seus seios
Doar-me a seus devaneios.

Perdido em meio a trejeitos
Num conto apaixonante,
História de dois amantes.

.........................................2001.

Ansiolítica

Anseio a ansiedade
Da ânsia que me amedronta,
A espera da novidade
O amor de quem se ama.

Aguardar ansiosamente
A descoberta do novo,
Sacia a chama ardente
Daquele que esconde o fogo.

O medo da derrota,
Do vexame que envergonha
Torna a vida sem graça, enfadonha.

O risco que alimenta, assanha
Apraz a serventia mundana
E dá tesão à vida, humana.

..................................2001

Soneto do Ciúme Doentio

O porquê de o ciúme ter
Cega a fala, muda o ver
Enlouquece do tolo o âmago
Esmorece o corpo, o estômago.

Xinga, mata, se arrepende
Chora, sofre, se defende
Escorraça a parte amada
Se afoga na cachaça.

Pelo medo da desgraça.
Enxovalha o amor de graça,
Abandona o par perfeito.

Falso moralista nato,
Desde cedo homem macho,
Solitário a vida passa...

......................................1999.
A verdadeira vida é o sonho
O verdadeiro sonho é a vida
Como posso viver sem sonhar?
Como posso sonhar sem viver?
As lágrimas do meu sonho
São a felicidade de minha vida.
Triste é quem não pode viver nem sonhar,
Triste é que não pode viver nem sonhar como nós vivemos e sonhamos.

..........................................1992 – 13 anos.
Um dia sonhei com teu corpo
Sonhei com teu corpo ao meu lado
E tudo expressava carinho
Num sonho que tive acordado.

Sonhando viramos um só
Alma pura e sem pecado
Sonho que tive contigo
Sonho que sonhei ao teu lado.

Na veia de minha vida
Esse sonho ficou marcado
Com o fogo do teu amor
Amor que me foi revelado.

E tenho escrito em minha veia
Por um fogo que ainda incendeia,
O amor que sonhei acordado.

..............................1994 – 15 anos.
O Amor é um não sei o quê,
Quer arde docemente e
Fere tão contente, que nem
Os mais cegos podem ver.

O Amor é o frio da fogueira,
Numa manhã estrelada
Igual aos contos de fada
Que a geleira incendeia.

É a esperança de um desiludido
O sorriso aberto de um pierrô,
Que na madrugada vive a rotina
E na rotina do dia vive o que sobrou.

....................................................1999.
As palavras são tão belas
Que nunca se acabarão.
E as palavras mais bonitas
São as que vêm do coração.

.....................1986 – 07 anos.

Parto Ausente

Cai a noite, crepúsculo tardio
E a aurora que custa se levanta
Na madrugada, furor, melancolia,
Nasce dia o dia, que a todos nos espanta.

Cresce o fruto que incha o puro ventre
É semente rompendo a terra boa
Barco raso afunda na enchente
Frágeis laços que a brisa rompe à toa.

Sobram cinzas, sequer brasas se vislumbram
Consumindo o papel ao fogo ardente
Das efêmeras fogueiras que iludem.

Faltam braços e abraços protetores
Resta o ser exposto a risos e amargura
Busca eterna ao seguro ancoradouro.

...........................................................2000
O coração de quem ama é todo feito de carne,
Arde em fogo e clama o corpo que lhe completa,
Qualquer sibilar ao ouvido o ventre em gelo arte,
Perdido de amor em chamas no seio que se revela.

Os lábios tocam o pescoço, sussurram sinceras mentiras,
As mãos se tornam libertas, travando um corpo a corpo,
A boca cala e suga os peitos o ventre e as pernas,
Os dedos já não se aquietam bulindo o corpo d’outro.

........................................................................2001.

Dialogando

Quão grande um sopro pode ser?
Mudar o mundo, emudecer. Matar...
Morrer, calar, tornar um cego a ver,
Fazer um homem feito de jeito chorar.

Pequenos atos, descompassados,
A ira que brota à boca fazem germinar,
De um grito mudo, estrondoso,
Angústia rompante a nós vem flertar.

E perco a fome, acabo o jantar
E vejo choro, começo a falar,
Certo ou errado, me arrepender.

E a deixo em casa, magoada,
E sinto-me tolo de o simples não ver.
“Pare o mundo que quero descer”.

...........................................05/11/2001.

Despedida

Um pedaço de mim fica.
Outro parte.
E essa arte denominada vida pulsa.
E invariavelmente nos conduz à morte.
Pois tudo aquilo que respira sofre.
.........................................Adeus São Paulo.
.................................................21-03-2008

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Perpétua (Imoral)

Versifiquei você
Eternizei meus medos
Truque sutil dos desejos
Chocolate e pasta de avelã.

Versifiquei você
Prima trip in Sacre Couer
Num pub londrinho, ira de março
Três corações despedaçados.

Moça, fostes uma florzinha de paina
Daquelas de soprar ao vento
Ventania, dor e relento
Sem paz, nostal-melancolia.

Moça, covarde tua tirania,
Não perdoar a vilania minha ,
Tirar-me todo bem que inda tinha.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Polaróides Mentais

Vejo teu cheiro, enxergo teu gosto,
Ornado teu rosto, retiro teus brincos
E brinco. Brincamos e rimos
Que seria do gozo sem riso? Do desejo sem rima?

Pudores de lado, olhares profundos
Desejos de marte, fraquezas do mundo
Fluídos doces e amargos, tão caros
Cara superação de entrega, despir-se dos medos.

Saltamos! No abismo de teus seios mergulho
Mergulhas tua cabeça em meu peito
Afagos de madeixas, beijos preguiçosos.

Viris. Tomados por uma fúria memorável
Abraçamos rol completo de pecados
Registros indeléveis de prazer.

Postais

Distância certa, propícia, separa-nos
Inquietante equilíbrio que respeita
Em sol irradiante de madeixas
E queixas que igual nos deparamos.

Cheira, a doce fruto e flor de pessegueiro
Esmeraldino olhar desassossega
Forjando pensamentos caridosos
Que frustram o distúrbio dos gracejos.

Um quadro que figura inconsciente
Sutil, malicioso ou inocente
Em dúvidas decotadas tão morais.

Num átimo, daquele viajor que segue errante
Percebo bela foto tão distante
Paisagens de um mundo de postais.

Acaso

Então o acaso nos apresentou
Como um tropeço na sarjeta
Caí de maduro e ri de mim
Sem graça, pois vi você.

E logo percebi que gesticulava
Freneticamente, como máquina
Era descompassada e esquisita
Acaso estava nervosa também.

Fulano falou: - Essa é...
Olhei de soslaio, sem jeito
Estendi a mão, suei frio.

Seus lábios se abriram, secos, colados
Ouvi um gemido: - Prazer
E o prazer foi todo meu.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Brisa

Sopre. Incessantemente sopre. Suave brisa.
Como sombra em dia quente, água para a sede.
Tornando a messe sustentável, beija-me
Ouvindo distantes os passos incertos do destino.

Fala-me. Cala-te. Dance em mim, ria de nós
Permita-me dar-te o que não possuo,
As certezas que não tenho, medos e anseios.
Junto, colo seguro, ombros firmes e mãos amigas.

Dias ruins, esta minha chatice incurável...
Dias bons, teu sorriso alegre e irritante
Ultrapassem nova aurora, mãos atadas.

Passe o tempo, maturem-se os frutos, seus, meus
Vagarosa e imperceptivelmente, seguindo.
Rascunhos que compõem o biográfico livro da vida.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Soneto a Defensora da Humanidade

Alva. Pura, breve, ruiva e alva.
Teu nome reflete Justiça e alma
Candura que esconde fervura de lava,
Em lábios vermelhos de paz e de calma.

E os olhos? Belos, confusos e hipnóticos
Tornam inseguro do justo ao hipócrita
Vítreos e imóveis, relembram bonecas
Contemplam e estimam tuas Pipocas.

És, também, busto, pescoço e sardas
Espera-se que venhas e partas
Breve qual bom pressentimento.

Plena. Segura no palco de minissaia
Recato de anjo, perfume que baila
No imaginário que aplaude prazendo.

Se eu fosse eu...

Ah se eu fosse eu! Tudo ia ser diferente
Sofreria menos, seria tão sorridente
Traduziria minha inteligência em atos
Usaria mais tênis, menos sapatos.

Ah se eu fosse eu! Com tantos predicados
Teria respostas para o mundo. Reconhecer-me-ia sortudo
De ter um cabedal de possibilidades tão vasto
Que seria impossível entristecer-me sequer um ato.

Ah se eu fosse eu, se eu fosse eu!
Já não seria mais ensimesmado
E irradiaria o fogo roubado por Prometeu.

Não sou mais eu, por isso deixa-me!
Já não possuo certezas do passado,
Estou abnegado: fujo calado aos conselhos seus.